thaise nardim

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primeiro fulgor


performance, performance-palestra


realizada no função_festival instantâneo de performance urgente, operado pelo coletivo visual nulo
espaço nulo, em palmas to
junho de 2015




:: a partir da leitura
e reescritura
(corp'a'reescrever)
de maria gabriela llansol ::

sobre um pedaço de terra
cavei um buraco
sobre o qual urinei.

revesti o corpo com o barro produzido.

ao microfone, li o seguinte texto:

ela disse:
é minha convicção que, se puder deslocar o centro nevrálgico do romance, descentrá-lo do humano consumidor de social e de poder, operar uma mutação da narratividade e fazê-la deslizar para a textualidade
um acesso ao novo, ao vivo, ao fulgor,
nos é possível.
mas que nos pode dar a textualidade que a narratividade já não nos dá (e, a bem dizer, nunca nos deu?).
a textualidade pode dar-nos acesso ao dom poético, de que o exemplo longínquo foi a prática mística. porque, hoje, o problema não é fundar a liberdade, mas alargar seu âmbito, levá-la até o vivo,
fazer de nós vivos no meio do vivo.

eu disse:
é minha convicção que, se puder deslocar o centro nevrálgico do teatro, descentrá-lo do humano consumidor de social e de poder, operar uma mutação da teatralidade e fazê-la deslizar para a ação presente
um acesso ao novo, ao vivo, ao fulgor,
nos é possível.
Mas que nos pode dar a ação presente que a teatralidade já não nos dá (e, a bem dizer, nunca nos deu?).
a ação presente pode dar-nos acesso ao dom poético, de que o exemplo longínquo foi a prática mística. porque, hoje, o problema não é fundar a liberdade, mas alargar seu âmbito, levá-la até o vivo,
fazer de nós vivos no meio do vivo.



ela disse:
escrevo,
para que o romance não morra.
escrevo, para que continue,
mesmo se, para tal, tenha de mudar de forma,
mesmo que se chegue a duvidar se ainda é ele,
mesmo que o faça atravessar territórios desconhecidos,
mesmo que o leve a contemplar paisagens que lhe são tão
difíceis de nomear.

eu disse:
performo,
para que o teatro não morra.
performo, para que continue,
mesmo se, para tal, tenha de mudar de forma,
mesmo que se chegue a duvidar se ainda é ele,
mesmo que o faça atravessar territórios desconhecidos,
mesmo que o leve a contemplar paisagens que lhe são tão
difíceis de nomear.



ela disse:
o poema é sem tesão e pleno de desejo. mas sem o desejo de se pôr em mim ou sequer de me fazer.
pleno de desejo? sim, é o que mais deseja. encontrar o corpo que, enfim, o escreva nesta voz. o texto.
[…] um poema que procura um corpo sem-eu, e um eu que quer ser reconhecido como seu escrevente. pelo menos. esse o ente criado em torno do qual silenciosamente gira toda a criação.

e então eu disse:
a ação é sem tesão e plena de desejo. Mas sem o desejo de se pôr em mim ou sequer de me fazer.
plena de desejo? sim, é o que mais deseja. encontrar o corpo que, enfim, a acione nesta presença. a performance.
[…] uma ação que procura um corpo sem-eu, e um eu que quer ser reconhecido como seu performador. pelo menos. esse o ente criado em torno do qual silenciosamente gira toda a criação.



ela disse:
ia o poema por um caminho
e uma criança apanhou um balão que era o seu espaço mental. era eu? era outra criança? o quarto onde eu vivia era, de facto, permeável ao jardim, à floresta e aos aspectos técnicos da nostalgia. a nostalgia escolhe, de preferência, os crepúsculos matinais, os instantes em que se conclui o trabalho e os passeios vespertinos por jardins que ainda não nos conhecem.

a criança tinha na mão um copo
onde brilhavam os reflexos e os raios deitados pela gravidade da cabeça. ria constantemente, e o seu riso era o percurso iluminativo do poema. eu não temia.
queria traçar uma vida que fosse minha.

e eu:
ia a ação por um caminho
e uma criança apanhou um balão que era o seu espaço mental. era eu? era outra criança? o quarto onde eu vivia era, de facto, permeável ao jardim, à floresta e aos aspectos técnicos da nostalgia. a nostalgia escolhe, de preferência, os crepúsculos matinais, os instantes em que se conclui o trabalho e os passeios vespertinos por jardins que ainda não nos conhecem.

a criança tinha na mão um copo
onde brilhavam os reflexos e os raios deitados pela gravidade da cabeça. ria constantemente, e o seu riso era o percurso iluminativo da ação. eu não temia.
queria traçar uma vida que fosse minha.

Recolhi as folhas secas caídas sobre o terreno,
e deitei-me com elas.



Fotos de Viuller Bernardo



Thaise Nardim

thaise@uft.edu.br
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Quê e Como

Gosto de resolver em forma de ação artística os problemas de sensações, sentimentos e pensamentos que se apresentam a mim. Esses problemas costumam dizer respeito às questões estético políticas do mundo em que vivemos (toda questão política é uma questão estética). Embora tenha uma formação inicial em Teatro, recorrerro às formas que se mostraram as mais pertinentes nessa dinâmica em cada contingência-situação. Assim, nos últimos anos tenho produzido prioritariamente performances e instalações, mas também poesias e intervenções, além de encenado espetáculos junto a grupos de teatro e música.
Quem e +

Sou é artista da presença, da palavra e da aula. Paulista de São Carlos crescida em São João da Boa Vista, venho tocantinando-me desde 2010, e Palmas já é a cidade em que vivi por mais tempo. Sou docente na Universidade Federal do Tocantins, no Programa de Pós Graduação em Arte e na Licenciatura em Teatro. Interesso-me pelo pensamento do processo, da imanência e da diferença; pela ética da convivialidade; por poéticas menores; por abaixar o volume; pelo amadorismo e pelo inacabamento como estéticas contracoloniais. Publiquei, entre outros, "Rabiscar língua com cacos de floresta - escrever e performar em pesquisa-docência-criação" pela EDUFT - ebook disponível gratuitamente - e "Aranhas pensam com a teia", pela Urutau. Sou uma pessoa neurodivergente e gosto de ocupar-me neurodivergindo a universidade.